quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sertanejo Universitário? Não, Obrigado...

Muita gente me pergunta o que acho do chamado “sertanejo universitário”. Confesso que, às vezes, evito o assunto. Talvez por conhecer muitos músicos que prestam serviço para a indústria que fabrica o gênero em questão. São meus colegas de trabalho e admiro a dedicação e o talento deles. Mas... quer saber? Não gosto de “sertanejo universitário”... Quer saber mais? Acho muito ruim... No bom português: desprezível. Com a permissão de abusar da vulgaridade: um lixo.
                Se critiquei, devo me explicar (será?). Durante anos, passei os fins de semana no sítio de um tio que escutava sertanejo de raiz. Aquelas músicas executadas por violeiros e cantores do sertão. Isso mesmo, sertanejos do sertão... Por mais estranho que possa parecer, esse tipo de música era feito no sertão mesmo. Sou a favor da modernização (adoro releituras de Beatles, peças eruditas tocadas na guitarra e afins), mas com o passar do tempo o rótulo “sertanejo” passou a englobar o pop romântico (era assim que as gravadoras classificavam o estilo das duplas com nomes fictícios que dominaram os anos 80 e 90) e foi ganhando contornos cada vez mais urbanos, seguido de uma simplificação artística que culminou na sua derivação mais moderna, sob o subtítulo de “universitário”.
                Se considerarmos a expressão tal como foi concebida, estamos falando de canções produzidas e consumidas pela elite cultural de nosso país, os estudantes das nossas universidades (renomadas ou não). Sinceramente, eu esperava mais... Esperava que nossos universitários fossem, no mínimo, capazes de escolher o que escutam, ao invés de abraçar a efemeridade de uma moda que nem sequer faz questão de parecer elaborada.
                Não pretendo sofrer de saudosismo de épocas que não vivi, enaltecendo as canções politicamente engajadas da contestadora MPB dos anos 60 e 70, entoadas pelos universitários de outrora. Acredito que a música evolui e que hoje temos mais ferramentas para produzir arte de qualidade. O que não consigo admitir é a quantidade absurda de hits com refrão pré-mastigado oriundos de um único estilo de música. Será que as rádios não têm outra coisa pra tocar? Será que os compositores brasileiros estão de férias? Será que os consumidores de música no nosso país estão precisando reciclar seus ouvidos?
                A internet nos fornece toda a parafernália de busca e pesquisa para encontrarmos músicas de todos os gêneros. Apesar disso, a preguiça intelectual ganha espaço na era da informação. É mais fácil digerir mais uma música que repete a fórmula cansada de um gênero mimético do que tentar descobrir algo diferente.
                Pra não ser (ainda mais) chato, vou tecer meus comentários considerando somente o universo das músicas sem conteúdo político-social, voltadas para o entretenimento imediato (trocando em miúdos: feitas para balançar o esqueleto e tomar uns goles de álcool). O pop-rock nacional é repleto de boas músicas com o único intuito de divertir o ouvinte, assim como o samba, o soul, a MPB... No entanto, parece que o Brasil atual só tem ouvidos para o mesmo tipo de som, feito pelos mesmos compositores, chorando as mesmas dores de um amor não correspondido ou convocando (com considerável êxito) o público feminino a exercer sua faceta de parcela submissa dos ritos sociais, tendo como único atrativo a sexualidade primitiva, desprovida de qualquer vestígio de mistério ou poesia.
                Estou cansado de ser recebido com a mesma trilha sonora em quase todos os ambientes. Os donos de bares, pizzarias, restaurantes e casas noturnas já nem perguntam se as pessoas querem algo novo, afinal quem não gosta de sertanejo universitário? EU NÃO GOSTO! Proprietários de estabelecimentos comerciais: troquem o CD de vez em quando. Radialistas: surpreendam-nos com boas sugestões musicais. Ouvintes: pesquisem o que há de diferente no mercado fonográfico.
                Deixo um pedido especial aos meus colegas músicos: vamos produzir! Quando busco refúgio para meus ouvidos nos pubs de rock, ouço grandes interpretações... de músicas do passado! Cadê o rock autoral? Sem novidade, os circuitinhos fechados de pubs (como temos em BH) se restringirão ao papel de nota de rodapé nas páginas da história cultural do país, perdendo o direito de fazer parte de movimentos artísticos maiores e (quem sabe?) mais lucrativos.
                Aos representantes do estilo que aqui critico, registro meus parabéns pela determinação ao se estruturarem administrativamente e cooperarem uns com os outros pelo fortalecimento do gênero. Não desejo a decadência de um ramo da música, espero apenas que exista mais produtividade dos demais artistas e mais vontade do público em geral para sair do ostracismo intelectual da música enlatada.
                Estou tentando fazer a minha parte... Não acredito que a qualidade musical deva se restringir a ciclos como o meio erudito ou os festivais de jazz. Penso que a cultura de massa pode e deve gerar novas idéias e novos sons. Faço questão de não emprestar minha mão-de-obra para a consolidação de algo que abomino. Respeito os que tocam “qualquer coisa” pra manter as contas em dia e torço para que nós (músicos/instrumentistas) possamos conseguir mais do que apenas sobreviver.
 Em breve, darei minha contribuição... Receberei elogios e críticas de braços abertos quando, enfim, colocar minhas músicas no mercado. E peço mais uma vez aos colegas que façam o mesmo, gravando sua obra e ocupando um pedacinho do disputado espaço artístico brasileiro, hoje repleto de adereços pseudo-rurais.
                Espero que num futuro (muito) próximo, a crescente “bundalização” da nossa cultura dê alguma brecha para a novidade. Vamos aguçar os ouvidos e exigir um pouco mais de inteligência nos versos e melodias (ainda que despretensiosos) de cada refrão que nos propusermos a repetir. É possível escapar do pensamento óbvio e da repetição desnecessária. Como eu já disse (em verso e melodia): “Grite, cante e dance/Mas fique fora de alcance.”

5 comentários:

  1. Adorei o comentário do "sertanejo do sertão". Poucas pessoas se atentam para quão redundante isso possa parecer, mas nos tempos atuais, em que impera o "sertanojo", essa explicação precisa mesmo ser feita.

    Já não sou mais tão puritana, de não achar que os estilos não têm seu lugar, e me atrevo a dizer até que já dancei esse tal de "sertanejo universitário", para não ter que ficar de cara emburrada na festa(afinal, a errada do contexto seria eu, né?!). Mas ei de concordar plenamente que os consumidores estão precisando reciclar seus ouvidos. Tantas coisas boas sendo lançadas e para quê? E para quem?

    Eu sou universitária, e odeio esse rótulo que parece limitar drasticamente minha capacidade intelectual. Quem foi que disse que todo universitário gosta de pop romântico?

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    1. Pois é... Acho que o maior problema é a falta de diversidade... Dá pra dançar "Tchus" e "Tchas" por aí... Mas todo dia? Sempre a mesma m#%*@ ?
      Os universitários deveriam dar um bom exemplo... Que tal dançar um pouco ao som de Maroon 5, Lulu Santos, Beatles, James Brown, Jamiroquai... E cadê as novas bandas brasileiras pra dar qualidade ao som das festas? A última novidade dançante que ouvi foi o Jota Quest... Já faz tempo...
      Gosto das coisas que você escreve (e indica) no seu blog... Todo mundo deveria fazer esse tipo de pesquisa.

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  2. Nossa! Meu blog! Que vergonha de ele estar tão desatualizado! Volto com ele ainda esse ano, preciso só esperar a prova do mestrado passar!
    Bom, na calourada da minha turma (que nossa, faz tempo!) tivemos uma banda cover de Oasis (e olha que eu nem gosto muito, hein?!), mas esse tipo de coisa não é muito mainstream.
    A verdade é que se for pegar só esse ano e ano passado Maroon 5, Norah Jones, Joss Stone, Jon Fratelli, Foo Fighters, REM, Erasmo Carlos, Red Hot lançaram cd, além do Dave Matthews, que está pra lançar. Tem muito universitário escutando. Isso significa que isso tudo precisa do rótulo "universitário"?

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    1. Uai, bora criar o "rock universitário" então... hehehehehe
      Bem lembrado: o Erasmo lançou um disco muito foda!!!

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  3. Fe, primeiramente, parabéns pelo capricho na escrita e pela forma envolvente do seu texto.
    Eu gosto da diversidade, da pluralidade, do lixo e do diamante, porque acredito na escolha. Então, concordo com o que você diz. Principalmente, porque poucas pessoas parecem escolher, hoje. Acordo cedo porque TENHO que trabalhar... Almoço porque é assim que se come... Saio à noite porque TENHO que encontrar meus amigos, num ambiente lotado, sem conseguir escutá-los (ao final, nem sei como foram seus dias).
    Que a universidade volte a ser o que era! Que a crítica esteja presente diariamente! Nem que seja pra colocarmos um chapéu e dançarmos ao som de Tchu Tcha!

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