sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Pátria Sem Chuteiras

      Então é isso: o povo está nas ruas. Contra o quê? Passagens de ônibus? Creio que não. Ao contrário do que qualquer Arnaldo Jabor possa dizer (em conformidade com quem lhe garante o faz-me-rir), não penso que os protestos sejam fruto da falta de consciência política de uma classe média que escolheu o alvo errado. O aumento de passagens representa mais alguns centavos no bolso de quem nunca nos perguntou se concordamos com os preços, com os impostos, com a corrupção.
      Alguns centavos a mais não deveriam ser percebidos assim tão próximo da Copa das Confederações, afinal brasileiro só se importa com futebol... É, parece que as coisas mudaram. Nós nos importamos com quem fez o gol no domingo, mas também queremos saber porque a fatia do bolo que nos cabe sempre vem com uma mordida do PT ou do PSDB. Queremos mais de quem nos governa e não acreditamos no que diz a antiga mídia. Roberto Marinho, o Cidadão Kane tupiniquim, já se foi. E, antes dele, se foi a força de uma imprensa outrora inquestionável. Todos temos nossas próprias câmeras e somos os novos repórteres.
      Sempre fui e continuarei sendo muito crítico em relação ao conformismo habitual do brasileiro, mas fico feliz de ver que começamos a pensar e agir um pouco mais. Aqui em Belo Horizonte a prefeitura faz festa pra comemorar o evento futebolístico que se aproxima. Mas a maioria das pessoas com as quais eu converso (e eu converso muito!) tem uma visão bastante crítica sobre tudo isso. Taxistas, comerciantes, estudantes... Todos tem algo a dizer que vai além da preocupação com o preparo psicológico do Neymar para o próximo jogo. 
      A internet espalha bobagens, mas também nos leva à informação. Basta procurar. E ela é, certamente, o veículo a ser consultado antes de formarmos nossa opinião sobre um determinado acontecimento político. Podemos consultar mais de uma fonte e assistir vídeos amadores (muitas vezes mais confiáveis do que a fonte oficial) dos conflitos e protestos. Podemos também nos posicionar contra ou a favor do acontecimento em debate e, consequentemente, entender um pouco mais sobre o outro lado.
      Quando eu era um pouco mais jovem (nem tão jovem assim) participei de uma manifestação malsucedida contra aumento de passagens. Na época, uma reportagem que classificou o protesto como "vandalismo" foi plenamente aceita pela maioria da população. Nem todo mundo tinha acesso ao YouTube. A informação que hoje circula no plano virtual é, no mínimo, mais ampla.
      Sinceramente, sou a favor do caos. Vamos brigar, incomodar, reclamar. Desse caos há de surgir um mundo de novas idéias e possibilidades. Afinal de contas, não é bonito dizer que a Revolução Francesa foi um marco? Precisamos de pequenas revoluções, de brigar pelo que acreditamos (mesmo se não estivermos com a razão).
      Um recado aos jornalistas da mídia caduca: vocês não são tão influentes quanto pensavam. E um recado para o governo (este e os próximos): não pense que qualquer bola na rede nos faz esquecer que temos direitos.
      A Copa das Confederações tá quase começando e isso me deixa ansioso. Ansioso pra ver quem mais vai se levantar e reclamar. Acho que vou até fazer uma música sobre isso. Vou escrever aqui no blog também. Mas se o Neymar colocar a bola na rede, também vou gritar "gooollll!!"