Muita gente me
pergunta o que acho do chamado “sertanejo universitário”. Confesso que, às
vezes, evito o assunto. Talvez por conhecer muitos músicos que prestam serviço
para a indústria que fabrica o gênero em questão. São meus colegas de trabalho
e admiro a dedicação e o talento deles. Mas... quer saber? Não gosto de
“sertanejo universitário”... Quer saber mais? Acho muito ruim... No bom
português: desprezível. Com a permissão de abusar da vulgaridade: um lixo.
Se
critiquei, devo me explicar (será?). Durante anos, passei os fins de semana no
sítio de um tio que escutava sertanejo de raiz. Aquelas músicas executadas por
violeiros e cantores do sertão. Isso mesmo, sertanejos do sertão... Por mais
estranho que possa parecer, esse tipo de música era feito no sertão mesmo. Sou
a favor da modernização (adoro releituras de Beatles, peças eruditas tocadas na
guitarra e afins), mas com o passar do tempo o rótulo “sertanejo” passou a
englobar o pop romântico (era assim que as gravadoras classificavam o estilo das
duplas com nomes fictícios que dominaram os anos 80 e 90) e foi ganhando
contornos cada vez mais urbanos, seguido de uma simplificação artística que
culminou na sua derivação mais moderna, sob o subtítulo de “universitário”.
Se
considerarmos a expressão tal como foi concebida, estamos falando de canções
produzidas e consumidas pela elite cultural de nosso país, os estudantes das
nossas universidades (renomadas ou não). Sinceramente, eu esperava mais...
Esperava que nossos universitários fossem, no mínimo, capazes de escolher o que
escutam, ao invés de abraçar a efemeridade de uma moda que nem sequer faz
questão de parecer elaborada.
Não
pretendo sofrer de saudosismo de épocas que não vivi, enaltecendo as canções
politicamente engajadas da contestadora MPB dos anos 60 e 70, entoadas pelos
universitários de outrora. Acredito que a música evolui e que hoje temos mais
ferramentas para produzir arte de qualidade. O que não consigo admitir é a
quantidade absurda de hits com refrão pré-mastigado oriundos de um único estilo
de música. Será que as rádios não têm outra coisa pra tocar? Será que os
compositores brasileiros estão de férias? Será que os consumidores de música no
nosso país estão precisando reciclar seus ouvidos?
A
internet nos fornece toda a parafernália de busca e pesquisa para encontrarmos
músicas de todos os gêneros. Apesar disso, a preguiça intelectual ganha espaço
na era da informação. É mais fácil digerir mais uma música que repete a fórmula
cansada de um gênero mimético do que tentar descobrir algo diferente.
Pra
não ser (ainda mais) chato, vou tecer meus comentários considerando somente o
universo das músicas sem conteúdo político-social, voltadas para o
entretenimento imediato (trocando em miúdos: feitas para balançar o esqueleto e
tomar uns goles de álcool). O pop-rock nacional é repleto de boas músicas com o
único intuito de divertir o ouvinte, assim como o samba, o soul, a MPB... No
entanto, parece que o Brasil atual só tem ouvidos para o mesmo tipo de som,
feito pelos mesmos compositores, chorando as mesmas dores de um amor não
correspondido ou convocando (com considerável êxito) o público feminino a
exercer sua faceta de parcela submissa dos ritos sociais, tendo como único
atrativo a sexualidade primitiva, desprovida de qualquer vestígio de mistério
ou poesia.
Estou
cansado de ser recebido com a mesma trilha sonora em quase todos os ambientes.
Os donos de bares, pizzarias, restaurantes e casas noturnas já nem perguntam se
as pessoas querem algo novo, afinal quem não gosta de sertanejo universitário?
EU NÃO GOSTO! Proprietários de estabelecimentos comerciais: troquem o CD de vez
em quando. Radialistas: surpreendam-nos com boas sugestões musicais. Ouvintes:
pesquisem o que há de diferente no mercado fonográfico.
Deixo
um pedido especial aos meus colegas músicos: vamos produzir! Quando busco
refúgio para meus ouvidos nos pubs de rock, ouço grandes interpretações... de músicas
do passado! Cadê o rock autoral? Sem novidade, os circuitinhos fechados de pubs
(como temos em BH) se restringirão ao papel de nota de rodapé nas páginas da
história cultural do país, perdendo o direito de fazer parte de movimentos
artísticos maiores e (quem sabe?) mais lucrativos.
Aos
representantes do estilo que aqui critico, registro meus parabéns pela
determinação ao se estruturarem administrativamente e cooperarem uns com os
outros pelo fortalecimento do gênero. Não desejo a decadência de um ramo da
música, espero apenas que exista mais produtividade dos demais artistas e mais
vontade do público em geral para sair do ostracismo intelectual da música
enlatada.
Estou
tentando fazer a minha parte... Não acredito que a qualidade musical deva se
restringir a ciclos como o meio erudito ou os festivais de jazz. Penso que a
cultura de massa pode e deve gerar novas idéias e novos sons. Faço questão de
não emprestar minha mão-de-obra para a consolidação de algo que abomino.
Respeito os que tocam “qualquer coisa” pra manter as contas em dia e torço para
que nós (músicos/instrumentistas) possamos conseguir mais do que apenas
sobreviver.
Em breve, darei minha contribuição...
Receberei elogios e críticas de braços abertos quando, enfim, colocar minhas
músicas no mercado. E peço mais uma vez aos colegas que façam o mesmo, gravando
sua obra e ocupando um pedacinho do disputado espaço artístico brasileiro, hoje
repleto de adereços pseudo-rurais.
Espero
que num futuro (muito) próximo, a crescente “bundalização” da nossa cultura dê
alguma brecha para a novidade. Vamos aguçar os ouvidos e exigir um pouco mais
de inteligência nos versos e melodias (ainda que despretensiosos) de cada
refrão que nos propusermos a repetir. É possível escapar do pensamento óbvio e
da repetição desnecessária. Como eu já disse (em verso e melodia): “Grite,
cante e dance/Mas fique fora de alcance.”